Sabe que minha vida sempre foi
assim....nasci, claro, dei muito trabalho, não dormia, coisa que até hoje
carrego comigo. Hoje isso é uma vantagem, a madrugada me organiza para que eu
possa por em pratica durante o dia.
E nessas horas de insônia penso
muito, mas pensar só não é o que me vai colocar onde tenho que estar. Preciso
agir!
Durante toda minha vida fui
fuçando em várias áreas que poderiam dar certo. Meu problema é me encantar
demais com as coisas e nessa mesma intensidade eu desencanto e desapego muito fácil.
Meu mecanismo de libertação. Descobri que dá certo. Até mesmo porque para eu
encontrar o que eu tenho que seguir, precisei muito executar essa tarefa de me
libertar fácil daquilo que não era pra ser.
Quis um dia ser atleta, subir montanha,
escalar, saltar, morar na selva, sonhei ate em me inscrever em algum curso de sobrevivência,
vai saber, se algum dia não vou parar numa ilha deserta? Pode acontecer, rs. Sonhei
em ser nutricionista, montar um SPA, proporcionar bem estar e vida saudável para
a humanidade. Nesse meio tempo, tive que abdicar de ideias, de sonhos que alimentei,
mas que vi que não seriam meus.
A vida tomou outro rumo. Por
necessidade, precisei entrar em uma faculdade que, diante as circunstancias,
foi o caminho mais curto e de fácil acesso para aquele momento. Essa faculdade
me proporcionou pelo menos 80% da comunicação que tenho, me proporcionou uma experiência
que ninguém tira de mim. Quando pegamos algo sem manual, sabemos nos virar
muito melhor. Diante da crise é que nascem as grandes ideias. Fiz desses oito
anos de comércio um estágio, sofri, me decepcionei, me frustrei, às vezes nadei
e morri na praia, mas minhas vitórias sempre conseguiram cobrir tudo isso, pois
se tenho algo de que posso me orgulhar, é da força que sempre tive de dar a volta
por cima. Existem pessoas que enxergam as dificuldades como derrota, eu já
enxergo como desafio, eu faço o máximo para conseguir superar a cada dia o que
ou quem me desafiou.
Durante o jogo, mergulhei na
mente humana, de um modo não tão certo, e focava algo não favorável. Já que a
vida não é nenhum CSI e na atual conjuntura não poderia ser a detetive que
criava na minha cabeça, quis ser detetive de mentes... estava por uma obsessão.
Enfim me distraí com algo certo na minha vida e mais uma vez enxerguei o que
não poderia ser. A detetive aqui desvendou mais um mistério da minha existência.
E como todo jogo tem um
intervalo, antes do segundo tempo, me aventurei em ser bailarina. Um sonho,
algo que me fez distanciar dos momentos de dificuldade existencial. Os anseios
aumentavam e o ballet me relaxava. Mas, mais uma vez vi que isso era fora do
alcance. Era como alguém que bebia para esquecer os problemas, mas no outro
dia, o problema ainda existia e ainda estava com uma ressaca danada. O ballet
foi minha ressaca de prazer de viver algo mágico, vivi uma arte, fui “arteira”
por um tempo, experimentei o palco, me apaixonei. Mas a paixão sim “é fogo que
arde sem de ver, ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente”.
A paixão morre e nos desespera e quando enxerguei isso, vi que não fazia parte
desse mundo.
Enfim acordei, minhas instruções,
o que me permiti aprender dentro das filosofias que sigo, tiraram minhas
vendas. Hoje me encontrei, ou melhor, sempre estive ali, apenas dormia. Resolvi
pendurar as chuteiras daquilo que calçava, daquilo que não servia mais. O sapato
estava apertado, formava calos, machucava, estava desgastado, não era meu numero
e nem meu estilo. Hoje descobri o ideal, vou comprá-lo ainda, vai levar um
tempo, mas quando calçar sei que será meu aliado para o caminho certo que
seguirei. A vida é assim, o sol nasce pra todos, e pra não torrar nele, o
segredo é descobrir onde está sua sombra, sua água fresca e nas horas vagas,
sua rede pra descansar.
Enquanto isso, vamos treinar,
vamos arriscar, vamos saber viver. Perceber as flechas que tentam nos atirar e
desviar delas. Hoje fiz algo que sempre sonhei, me aventurei, saltei de
paraquedas (de forma figurativa), minha atitude deu meu impulso...fiz uma ponte
com os conhecimentos que adquiro a cada dia. Meu pedido de demissão de uma vida
que não é minha foi a abertura para a vida que será minha. Seguir as intuições
com cautela, escutar quem pode me trazer resultados favoráveis e saber falar na
hora certa e a coisa certa, aprendi e tento sempre colocar em prática. As escolhas
que fazemos são livres e remediadas até certo ponto, cabe a nós prevenirmos. Sei
que o que arde em meus olhos é a limpeza de tudo que me deixava cega. Hoje sei
que posso acordar e seguir o rumo certo, ter foco e saber o ponto de partida,
depois que temos conhecimento, faz tudo fluir com naturalidade. No final, esse
meu novo sapato continuará confortável e firme, pronto para ser deixado, com
desapego, libertação, mas sabendo que foi meu instrumento da passagem certa por
esse teatro chamado vida.
Silvia Dutra